Considerações político-zootécnicas

Nunca escrevo sobre política. Falta-me para isso conhecimento e formação. Prefiro abordar o ser humano e procurar entender o nosso espaço interior. Em face das dificuldades que o Brasil atravessa, não resisti. Vou me aventurar a escrever sobre um tipo especial do ser humano, o ser político. Nada de política partidária, mas apenas farei algumas suposições pessoais sobre os mecanismos interiores que armadilham a alma de alguns de nossos políticos. Na minha visão, todos os problemas de nosso sistema político nascem de alguns sentimentos que fazem parte do elenco natural das emoções humanas. Apego ao poder, ambição, vaidade e, para alguns, ganância e cobiça, são os ingredientes que condimentam o caldo político vigente, que almeja o crescimento do poder partidário e sua manutenção prolongada no poder. Uma comparação simples seria o processo de engordar galinhas. Quando pequenos os frangos utilizam a energia da sua alimentação predominantemente utilizada para construir proteínas e fazer crescer o seu corpo. Nesta fase do desenvolvimento galináceo uma mínima parte da energia é empregada para manter o metabolismo basal. Com o passar do tempo, temos uma galinha ou galo gordos e que, para se manterem vivos, dispendem a maior parte de sua energia para manter o seu metabolismo, destinando muito pouco para o seu crescimento. Em resumo, deixaram de construir para dedicar as suas energias a própria manutenção. Quando os partidos políticos elaboram projetos de crescimento e manutenção por longo tempo no poder comportam-se como galinhas gordas, dedicando o melhor de suas energias para manterem-se vivos e no topo. O processo é inexorável, inevitável e independe de qualquer matiz ideológico, como apontado pela História. É como se qualquer modelo político, por mais virtuoso que seja, não resistisse por longo tempo à emergência de algumas das piores propriedades do sentimento humano dos seus atores, os seres humanos que constituem os partidos. Os galos e as galinhas mais avantajadas ao tomarem para si a maior parte dos alimentos, dificultam o sustento dos frangos mais jovens, impedindo a renovação do galinheiro. Os partidos políticos de maior porte também assim procedem, com um agravante. A manutenção contínua no poder, além de exaurir os recursos de um País, também empobrece a alma dos seus membros, reforçando-lhes os pecados da alma. A política torna-se então uma coisa menor e, pior, mais suja do que pau de galinheiro. Aliás, essa expressão é particularmente válida quando vemos os acordos políticos dos dias de hoje. Ainda na área dos galináceos, é imperioso recuperar o mais rapidamente possível os princípios que regem a verdadeira política, uma atividade política, virtuosa e baseada na ética. Caso contrário, teremos que acrescentar mais aves a este texto, pois seremos nós, os brasileiros, que mais uma vez iremos pagar o pato. Realmente, é do peru.

Paulo Saldiva