Foi realizado dia 27 de março no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF/USP), o VIII Workshop de Educação e Pesquisa do Estado de São Paulo, com o tema ‘Água, Clima e Energia: Problemas e Desafios’. Professores e especialistas nas áreas discutiram soluções e possibilidades de atuação diante das crises de abastecimento que se desenham, cujo pano de fundo, ao que tudo indica, são as mudanças climáticas.

O evento, com transmissão ao vivo, foi promovido pelo Instituto para a Valorização da Educação e Pesquisa do Estado de São Paulo(Ivepesp), pelo Laboratório de Hidrometeorologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAGUSP) e pelo Instituto de Física da USP (IFUSP). “Achamos oportuno trazer os temas para dentro da universidade, fornecer subsídios para as pessoas entenderem o que está acontecendo”, esclarece Helio Dias, presidente do Ivepesp. “Em breve, as palestras estraão disponíveis na internet.”

Inicialmente, Adalberto Fazzio, diretor do IFUSP, ressaltou que o evento seguia modelo consagrado entre universidades do exterior de tratar temas interdisciplinares, como a relação entre energia, água e ambiente, envolvendo o saber de diversas áreas, com a participação de biólogos, físicos e sociólogos, entre profissionais de outras áreas do conhecimento.

Laerte Sodré Jr., diretor do IAGUSP, destacou a atualidade dos temas a serem tratados e apontou a quantidade de eventos que vem ocorrendo sobre eles em todo o país. Apontou que enfrentar os problemas, identificar desafios e buscar maneiras de superá-los são tarefas das universidades públicas. Também disse que buscar melhores recursos tecnológicos e culturais é essencial, pois obter melhores dados, uma perspectiva multidisciplinar, seria uma maneira de encontrar soluções.

Julio Cezar Durigan, reitor da Unesp e vice-presidente de Ensino e Pesquisa do Ivepesp, destacou que o Instituto é um sonho possível graças à interação entre professores com o compromisso de utilizar seus conhecimentos em diversas áreas para exercer a cidadania. Isso significaria um diálogo entre a educação e a pesquisa e entre a universidade, a comunidade e os gestores públicos. “A modernização tecnológica na área da Ciências Agrárias elevou a produtividade. O atual desafio é usar de maneira mais racional a água e a energia, entendendo, por exemplo, as relações complexas delas com o clima”, afirmou.

Augusto José Pereira Filho falou sobre “Problemas e Desafios do Tempo e Clima no Brasil”. Mostrou como maior evaporação do que precipitação gera um déficit de umidade. Discorreu sobre as variações climáticas, como a menor incidência de chuvas na cidade de São Paulo. Lembrou ainda que uma menor incidência de nuvens, por exemplo, resulta em mais calor na superfície da terra, o que deixa a atmosfera mais quente e, com temperatura mais quente e menos incidência de chuvas, fica muito difícil recuperar sistemas como o da Cantareira. “Nesse cenário, a educação ambiental para reduzir desperdícios e aumentar a sustentabilidade do sistema é muito importante”, declarou.

Wolfgang Bauer, da Michigan State University (EUA), proferiu palestra com o mote ‘Sustentabilidade: Energia e Água’. Ele discorreu sobre como diversos fatores, como o aumento da população, e as alterações climáticas, geraram desequilíbrio. “O equilíbrio entre os sistemas relacionados à água e à energia são essenciais para um cenário de sustentabilidade. O fluxo da presença de neve e de chuvas nas mais distintas regiões do planeta gera todo um ciclo, que se manifesta de diversas formas nos hemisférios. Estudas essas variáveis é fundamental para o desempenho do conjunto do planeta”, salientou.

José Goldemberg, do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, abordou “O papel da Amazônia no clima e na produção de energia”. A palestra enfocou a matriz energética brasileira, com destaque para geração de energia pelas usinas hidrelétricas. Destacou a situação do sistema e a deficiência no momento, mostrando que a construção de reservatórios é muito cara e envolve diversas situações como a desocupação de áreas ocupadas por populações ribeirinhas ou índios. “Não se pode negligenciar que o clima mudou. Tem chovido pouco e a atmosfera está aquecendo. É preciso produzir mais energia. O fato é que a recuperação do sistema hidrelétrico é uma necessidade, que demanda alto investimento”, finalizou.

Ivanildo Hespanhol, da Escola Politécnica (Poli) da USP, discorreu sobre ‘Conservação e Reuso como Instrumentos de Gestão de Recursos Hídricos’. Mostrou que existe tecnologia para que esgoto doméstico ou industrial seja transformado em água que pode ser utilizada para usos altamente especializados e de elevada exigência de qualidade, como a lavagem de produtos eletrônicos, como CDs ou DVDs, e na área da produção farmacêutica. “O aquecimento global nos coloca numa situação crítica. É preciso, especialmente em cidades como São Paulo, mudar o paradigma de gestão das demandas. Nesse aspecto, o reúso de água caminha ao lado da educação ambiental, combatendo a cultura da abundância, que inclui os ‘banhos de Cleópatra e o uso da ‘vassoura hídrica’.”

Hespanhol reforçou a necessidade de sistemas de distribuição mais eficientes e o combate de perdas específicas em banheiro e cozinhas, assim como na agricultura. “O Brasil utiliza 70% de sua água na agricultura. A tendência é de crescimento, porque essa tecnologia aumenta a produtividade. O uso de esgoto tratado na irrigação, com nutrientes, micronutrientes e húmus, que aumenta a capacidade do solo reter a água, traz resultados mensuráveis na produção agrícola”, explicou.

Salientou ainda que as empresas estão cada vez mais preocupadas em associar o seu nome à gestão ambiental, investindo na sua imagem como instituições que ajudam a conservar a água. “É possível o reúso a partir de água com poluentes químicos e biológicos. Uma questão, porém, é a percepção pública negativa da utilização de uma água que já foi esgoto. É necessário educar as pessoas sobre o tema, com campanhas de conscientização que enfoquem questões ambientais dentro da realidade técnica e financeira nacional”, finalizou.

A mesa-redonda ‘P&D : Água,Clima e Energia: Quais são os desafios?’ teve como moderador Ruy Altafim, chefe do Departamento de Engenharia Elétrica e Computação da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP) e vice-presidente de Cultura e Extensão do Ivepesp. “Os participantes, representando Sabesp e Cesp, vão apresentar os desafios que os afligem”, comentou.

‘O papel da Sabesp nas operações de água e esgoto em SP’ foi o tema de Wagner Garcia, Gestor do Centro de Controle Operacional da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, cujo principal acionista é o governo do Estado de São Paulo, que controla a gestão da companhia). Ele apresentou o perfil da empresa que, responsável por 364 municípios, com 28,2 milhões de habitantes, conta com 13.500 empregados. Relatou que o Sistema Cantareira deixou de ser o maior produtor de água de São Paulo, passando o posto para o sistema produtor do Alto Tietê. “A atual crise lança um alerta que a água é um bem finito, que precisa ser preservado para suprir as futuras gerações”, finalizou.

‘O Sistema Interligado Nacional (SIN) e o papel das Previsões Meteorológicas e Climáticas no Planejamento e na sua Operação’ foi o tema de Paulo Ricardo Laudanna, Gerente do Departamento de Planejamento e Produção da CESP’. Levando em conta que a Companhia Energética de São Paulo é a maior produtora de energia elétrica do Estado de São Paulo, com potência total instalada de 7.455,30 MW, e a terceira maior do Brasil, possuindo seis usinas hidrelétricas integradas ao Sistea Interligado Nacional (SIN), ele comentou que a atual situação é um desafio constante.

Disse ainda que um dos maiores problemas para a empresa é a dificuldade de fazer previsões, principalmente em situações não usuais, que envolvem, por exemplo, as descargas elétricas, a intensidade dos ventos e precipitações. “Telemetrias locais enfrentam problemas como o roubo dos equipamentos ou problemas no funcionamento difíceis de controlar. O ideal seria ter mais investimento e tecnologia em satélites e outros recursos remoto que possam gerar dados a cada 30 minutos. “Também necessitamos de técnicas que nos ajudem com levantamento de volume de água e dimensionamento de áreas muito fragmentadas, difíceis de mensurar. Para isso, e para conseguir organizar melhorar essas informações, o diálogo com as universidades é fundamental”, concluiu.

Sobre o Ivepesp
Pessoa jurídica de direito privado, de natureza e fins civis, destituída de fins lucrativos e de inquestionável reputação ética e profissional com duração ilimitada, formalizado em 14 de junho de 2012, que tem por finalidade reunir profissionais da área da educação e da pesquisa científica e tecnológica do Brasil e demais países, visando implementar ações para a valorização da educação, da pesquisa científica, da inovação tecnológica e do desenvolvimento institucional.

Jornalista Oscar D’Ambrosio