A área da genômica educacional tem se expandindo rapidamente nos últimos anos devido aos avanços em genética e tecnologias digitais, permitindo o uso de informações detalhadas sobre o genoma humano e, desta forma, identificar sua parcela de contribuição para características particulares relacionadas aos processos educacionais.

 

Analítica da aprendizagem (em inglês, learning analytics) diz respeito à abordagem educacional baseada na coleta e análise sistemática de dados sobre o comportamento dos educandos com o suporte de modelos, simulações, algoritmos e padrões estatísticos.Genômica educacional, juntamente com analítica da aprendizagem, podem ser as chaves para uma educação personalizada, colaborando no desenho de estratégias educacionais e currículos customizados, evitando penalizar os educandos que não se encaixam nos modelos educacionais mais tradicionais voltados ao atendimento da média.

 

O tema ‘genética e comportamento humano’ sempre foi recheado de fascinações e suspeitas. Cada vez mais, seja na medicina (farmacogenômica), psicologia ou educação, estamos aprendendo que podemos melhorar a qualidade de vida de todos, conhecendo e respeitando as particularidades, inclusive genéticas, de cada um. Receios de sentimentos de eugenia e de más leituras dos avanços científicos sempre estarão presentes e a melhor forma de evitá-los é conhecendo mais sobre o assunto. Esta é a melhor estratégia para estarmos sempre alertas para distinguirmos a boa utilização do novo conhecimento dos eventuais usos inadequados e incorretas interpretações.

 

Ao longo de 2016, publicações em prestigiosas revistas do grupo Nature apresentaram resultados surpreendentes acerca da influência da genética sobre diferentes características educacionais. Em maio passado, no maior estudo de associação genômica de uma característica comportamental, pesquisadores identificaram 74 regiões do genoma associadas a anos de escolaridade completados (http://www.nature.com/nature/journal/v533/n7604/full/nature17671.html).

 

Em estudo subsequente, publicado em julho de 2016, baseado nos resultados acima citados, outro grupo de autores exploraram a possibilidade de predizer uma parcela do desempenho escolar de alunos aos 7, 11 e 16 anos a partir da análise de seus respectivos DNAs (http://www.nature.com/mp/journal/vaop/ncurrent/full/mp2016107a.html).

 

Eles calcularam os escores poligênicos associados a anos de escolaridade e compararam com os resultados nos exames oficiais em matemática e inglês em uma amostra de alunos da Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte. No resultado mais surpreendente deste estudo, tais escores genéticos explicaram 9% da variabilidade no rendimento escolar aos 16 anos.

 

Adicionalmente, os pesquisadores demonstraram que o poder preditivo quanto ao desempenho escolar é mais evidente nos extremos da distribuição dos escores genéticos. Educandos com maiores escores poligênicos obtiveram predominantemente conceitos entre A e B e os com menores entre B e C (https://www.rt.com/news/352123-dna-test-school-study/). Assim, tal abordagem pode ser ainda mais relevante para educandos com rendimentos acadêmicos menos satisfatórios, visto que permite intervenções precoces, por meio de ações e políticas educacionais apropriadas.

 

Importante destacar que os resultados acima apresentados refletem as reações frente a um sistema educacional específico e respostas a um conjunto particular de testes. Além disso, eles não significam que o desempenho acadêmico total de um aluno é determinado exclusivamente pela genética. No entanto, escores poligênicos, segundo os autores, podem prover com antecedência informações relevantes acerca da maior ou menor predisposição genética de a criança/adolescente vir a apresentar baixo (ou alto) desempenho em tais testes padronizados. Desta forma, viabilizando abordagens personalizadas, em função das circunstâncias específicas, é possível alterar, em tempo hábil, a eficiência do processo de aprendizagem.

 

Uma importante constatação educacional do mundo contemporâneo é que cada educando aprende de maneira única, demandando que ofertemos percursos educacionais múltiplos onde cada um possa encontrar os caminhos que melhor possa se adaptar. Genômica educacional, juntamente com a abordagem baseada na analítica da aprendizagem e o uso dos demais dados de diversos fatores ambientais e sócio-demográficos, viabilizam ingressarmos em um novo cenário de educação permanente ao longo da vida, onde todos aprendem, aprendem o tempo todo e, especialmente, onde cada um deve poder explorar ao máximo suas características e talentos próprios.