Dia Mundial de Conscientização do Autismo – 2 de abril
O autismo é um transtorno que causa muitos receios, dúvidas e inseguranças por parte das pessoas que tentam interagir com crianças ou adolescentes nesta condição. Na educação, isso não é diferente. Ainda existe uma parcela de professores que resistem à inclusão do aluno autista, muitas vezes pelo fato de não conhecer a síndrome e não conseguir trabalhar com esse estudante pelos métodos tradicionais.
Rafaela Cristina Bianchi, que apresentou no mês março a dissertação ‘A educação de alunos com transtornos do espectro autista no ensino regular: desafios e possibilidades’, pelo Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas, da Unesp de Franca, avalia de que forma as políticas públicas destinadas à inclusão do aluno com Transtorno de Espectro Autista (TEA) estão funcionando nas escolas onde ela realizou seu estudo.
A pesquisadora ressalta que “o professor é vítima de um sistema educacional falho e omisso quanto aos direitos do aluno autista”: o professor tem que lidar muitas vezes sozinho com um processo inclusivo que deveria ser responsabilidade de toda a comunidade. O estudo foi realizado no ano de 2015.
Para a orientadora da pesquisa, a professora Maria Madalena Gracioli, a pesquisa é relevante por vários motivos: por ser um tema ainda pouco explorado em investigações científicas; por persistir ainda, muitos mitos e medo em relação à inclusão do aluno com TEA no ensino regular; e, principalmente, por dar uma resposta à demanda de formação específica reivindicada pelos professores que atendem alunos autistas na educação básica da cidade de Orlândia”: município onde foi feita a pesquisa e local em que Rafaela pretende apresentar algumas sugestões do seu trabalho para a Secretaria de Educação do Município.
“Sendo assim, complementa a orientadora, se a proposta de melhoria da formação em serviço que será apresentada à Secretaria Municipal de Educação for implementada, todos terão ganhos: as professores das salas regulares e do Atendimento Educacional Especializado (AEE), os pais, e, de forma especial, os alunos autistas”, diz.
Entraves na inclusão
O estudo se iniciou com a coleta de dados realizada por meio de um amplo levantamento de estudos bibliográficos que teve como foco o autismo e a inclusão escolar. Na etapa seguinte, a pesquisadora avaliou, no material recolhido, os trabalhos políticas públicas realizados com foco no TEA. Ao final, entrevistou profissionais que trabalhavam com alunos autistas nas escolas regulares.
Fizeram parte das entrevistas professores de sala de ensino regular, coordenadores pedagógicas e professores do Atendimento Educacional Especializado (AEE) de três escolas onde estudam alunos autistas, na cidade de Orlândia, interior de São Paulo. Eles estavam cada um em um nível do espectro autista (leve, moderado e severo) e matriculados no primeiro ano, terceiro ano e quinto ano do ensino fundamental.
Em sua avaliação, Rafaela diagnosticou que em alguns níveis do transtorno, os professores encontram muitas dificuldades no processo de aprendizagem deste aluno. Alguns padrões de comportamento e características da pessoa autista prejudicam o trabalho do professor como os movimentos repetitivos; a hiperatividade excessiva (em alguns casos); os bloqueios na comunicação; e, principalmente, os problemas de concentração.
No caso específico da concentração, ela destaca que os movimentos repetitivos como o movimento de girar um brinquedo ou o balanço das mãos, impedem, muitas vezes, este estudante de realizar as atividades propostas em sala de aula.
Em razão de todas essas questões, os docentes encontram muitos obstáculos em estabelecer estratégias pedagógicas para ensinar o aluno com transtorno. “Desta forma, a inclusão do estudante no ensino regular acaba por ser prejudicada”, diz a pedagoga e professora de educação especial e da educação básica na cidade de Orlândia.
Na prática, a história é outra
De acordo com Rafaela, na cidade em que foi feita a pesquisa, os estudantes com TEA são matriculados em salas comuns e também no atendimento especializado, modalidade em que as aulas ocorrem no período contrário ao da classe regular.
“Geralmente, o docente que leciona para a turma a qual a criança estudará é avisado sobre a chegada do aluno, mas raramente há uma preparação com o professor ou com a turma que irá receber o aluno”, diz.
A Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, lei nº 12.764/12, traz informações que garante ao aluno um acompanhante especializado para mediar as situações de aprendizagem e cuidados essenciais, quando comprovada a necessidade.
Contudo, explica a professora, ainda há um grande conflito entre as garantias asseguradas pelas políticas públicas e a realidade vivenciada nas escolas. “Nas instituições pesquisadas, por exemplo, os alunos tinham como acompanhante uma estagiária (estudante de pedagogia), que não era uma pessoa especializada, como previsto por lei”, diz.
Por outro lado, os professores recebem da Secretaria de Educação do Governo do Estado de São Paulo uma capacitação da qual eles desaprovam. Rafaela conta que quem recebe esta preparação são as coordenadoras pedagógicas, que repassam aos professores. Porém, nem sempre este conhecimento é retransmitido da forma como foi ensinado. “Os professores não recebem a formação na sua essência e continuam carentes de formação específica”, finaliza.