Proposta foi apresentada durante X Workshop de Educação e Pesquisa do Estado de São Paulo

A décima edição do Workshop de Educação e Pesquisa do Estado de São Paulo, com o tema “Conquistas e desafios da ciência no Brasil”, ocorreu dia 3 de agosto, no Plenário da Câmara Municipal de São Paulo. O evento foi uma realização do Instituto para a Valorização da Educação e da Pesquisa no Estado de São Paulo (Ivepesp), cujo vice-presidente de ensino e pesquisa é o reitor da Unesp, Julio Cezar Durigan, e da SAC – Sociedade Amigos da Cidade.

O evento foi coordenado por J. B. Oliveira, do SAC, e teve como primeiro palestrante Antonio Carlos Hernandes, pró-reitor de graduação da Universidade de São Paulo (USP). Ele ressaltou a importância de criar um novo ambiente para o ensino de graduação da Universidade. Nesse sentido, ressaltou a necessidade de políticas desburocratizadoras e reformulações de procedimentos e currículos.

Apontou a baixa interação entre professor e aluno como um problema, assim como o excesso de aulas expositivas, a existência de docentes jovens com pouca experiência pedagógica e a dicotomia entre professores analógicos e estudantes digitais. Indicou ainda a convivência com salas de aula inadequadas para ações em grupo como algo a ser trabalhado.

Hernandes indicou que a USP, ao conceder maior autonomia às suas unidades para decisões na área de ensino, conseguiu reduzir o processo de 18 para 3 meses. Essa medida estaria aliada a um Programa de Valorização do Docente na Graduação e à criação de Centros de Aperfeiçoamento Docente, além de um Programa Permanente de Acompanhamento de Egressos e de ações para aproximar o jovem estudante do esporte. “Também vamos criar o Prêmio Professores Notáveis de Graduação e uma revista online de Graduação”, disse. “Além disso, parte de nosso cursos vai adotar o SISU/ENEM em 2016.”  

Glaucius Oliva, do Instituto de Física de São Carlos da USP, propôs a criação da Fundação de Amparo à Pesquisa da Cidade de São Paulo (FAPECISP), que seria uma agência de fomento municipal para identificar demandas e incentivar projetos que enfocassem problemas concretos da cidade. “O município forma anualmente 104 mil alunos de graduação e 24 mil de pós, entre mestres e doutores. Quantos deles estudam questões ligadas à cidade?”.

A proposta foi realizada após apresentar dados sobre a ciência brasileira, que conta hoje com 35.500 grupos de pesquisa e participa em 3% do conhecimento mundial publicado em revistas científicas, mas estacionou em 7 mil patentes anuais nos últimos 20 anos e vê as empresas gerarem menos inovação do que as universidades, numa situação inversa à dos EUA, por exemplo.

Oliva destacou ainda bons exemplos brasileiros, como a Petrobras, a Embraer e a Embrapa, que só se tornaram realidade pela associação entre conhecimento universitário e tecnologia. “Nos três casos, formar recursos humanos especializados, focar a inovação e gerar ampla produção científica foram essenciais”, disse.  

Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP, destacou o fascínio que sente pela cidade de São Paulo, mas detectou que o avanço tecnológico convive com as mais variadas doenças. A obesidade, o sedentarismo e a depressão foram apontadas como questões que demandam uma forte ação da ciência.

Um alimentação com altos índices de açúcar, sódio e gordura, associada a dificuldades de mobilidade urbana e a altos índices de poluição leva a altos índices de infarto e a um quadro de ansiedade generalizada. “Se a cidade de São Paulo tivesse a mesma poluição de Curitiba, os paulistanos ganhariam 3,5 anos de vida”, comentou.

Saldiva apontou que São Paulo, pelas suas características metropolitanas, é um laboratório natural para pesquisas em setores como violência, tráfego e saúde. “Após a criação de vacinas e antibióticos, fica cada vez mais evidente que cabe ao ser humano decidir o que come, bebe e inala e o modo como organiza a vida de uma maneira mais sedentária ou mais voltada para a sáude”, concluiu. “Temos que nos voltar para a construção de uma Fundação Protetora do Ser Humano”, ironizou.

Presidente do Ivepesp, Helio Dias, do Instituto de Física da USP, lembrou que a cidade de São Paulo deveria ter mais espaços para divulgar a ciência. Nesse sentido, propôs a criação de Centros de Divulgação Científica e, principalmente, defendeu atividades de ensino baseadas na resolução de problemas, que, comprovadamente, geram nos alunos, taxas de retenção de conteúdos de 75%, contra 5% das aulas expositivas tradicionais.

Dias citou ainda experiências realizadas na Universidade de Michigan na direção de plataformas educacionais interativos e e-books em que o leitor seja um ator participante. Ele enfatizou que a introdução nos cursos superiores de disciplinas de Física, Matemática e computação deveriam ocorrer de acordo com a necessidade para ajudar a solucionar problemas concretos.

O trabalho equipe, colaborativo, foi enfatizado, assim como a utilização de recursos interdisciplinares e tecnologias interativas. “Programas individualizados de exercícios a serem feitos em casa, por exemplo, desafiam o estudante de modo que ele aprenda fazendo, compartilhando a experiência com os colegas”, concluiu. “Um evento como este que estamos fazendo, na casa do povo, que é a Câmara dos Vereadores, é um passo para uma conscientização maior nessa direção.”

Oscar D’Ambrosio