Os seres humanos, desde as primeiras civilizações, sempre sobreviveram graças ao trabalho em grupo. Sem esse ingrediente, talvez, sequer tivéssemos existido enquanto espécie. A arte de armazenar o fogo, a eficiência das caças coletivas e até mesmo as inscrições rupestres deixadas nas cavernas foram algumas das marcas coletivas dos povos primitivos, cujas práticas nos permitiram chegar onde estamos hoje.
Assim, não há novidade na relevância do trabalho em equipe em nossa sociedade. No entanto, os processos ensino e aprendizagem, em geral, exploram muito pouco esta característica humana, sendo que a organização da escola tem desprezado este potencial, muitas vezes reprimindo-o. A escola tradicional supervaloriza a aprendizagem individual no processo de ensino via salas de aulas com alunos basicamente passivos e, especialmente, nos métodos avaliativos normalmente adotados.
Não chega a ser surpreendente que as organizações empresariais se anteciparam à escola na percepção da recente relevância do trabalho em equipe, reconhecido hoje como elemento estratégico e crucial nas instituições mais modernas e inovadoras. Na prática, findou-se por descobrir fora do ambiente escolar elementos interessantes como o fato que na maior parte dos casos estudados a equipe tende a ter maior sucesso quando composta por grupo entre cinco a nove membros. Da mesma forma, contrariando o senso comum, maior diversidade cultural, incluindo de gênero, étnica e de faixa etária, tende a gerar melhores resultados.
Além disso, as companhias se viram obrigadas a repensarem hierarquias clássicas, dado que, graças às tecnologias digitais, as equipes conseguem uma dinâmica que sugere um nível de horizontalização inédito, viabilizando soluções em tempos bem menores se comparados com o cumprimento de rituais clássicos cristalizados. Por fim, os conceitos de líder e liderança se adaptam aos novos tempos e assumem características inéditas, entre elas que o líder nem sempre é o mesmo ao longo de toda a missão e que o excesso de liderança individual pode gerar inibição dos demais, podendo mesmo, no limite, ser prejudicial.
As escolas gradativamente estão incorporando trabalho em equipe como elemento cada vez mais presente em seus processos educacionais. No entanto, avaliar trabalho em equipe é, de fato, sempre complexo, mas é possível ser bem executado em ambientes escolares que reconhecem nesta estratégia elemento essencial do processo de aprendizagem. Uma sugestão inspiradora, entre várias, para avaliar equipes vem da observação de bandas de jazz. Interessante observar que qualquer público atento, apreciador de boa música, sabe muito bem identificar diferenças entre uma banda que tem boa qualidade e outra de menor valor. Tão importante quanto isso, se todos os componentes tocarem solo, também saberão, razoavelmente, identificar quem toca bem e quem não executa tão bem.
Trabalhar em equipe viabiliza algo imprescindível nos tempos atuais, a aquisição e a construção coletivas do conhecimento, práticas nas quais o aluno se relaciona de forma diferente com o saber e quando as relações interpessoais desempenham papel preponderante. No trabalho em grupo, além do domínio do conhecimento, o aluno desenvolve várias habilidades, entre elas, aprender a avaliar, decidir, considerar as opiniões dos demais e, especialmente, compartilhar acerca das próprias práticas, dominando melhor os mecanismos segundo os quais ele aprende. Essas competências são cruciais para a vida, seja como profissional ou cidadão.
Em suma, trabalhar em equipe se aprende na vida, mas pode e deve ser estimulado e aprimorado na escola, e avaliar coletivamente deve ser um instrumento adicional de estímulo ao aprendizado. Preparar profissionais e cidadãos para um futuro que se avizinha torna imprescindível incluir trabalhos em grupo de forma sistemática com uso de metodologias que explorem soluções de problemas ou realizações de projetos.